quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Quem ama... ama. Bonito lhe parece.

Eu adoro “sonata ao luar” de Beethoven. Adoro tanto que ao lembrar dela para escrever este "artigo" tive que imediatamente colocá-la para tocar.

Há tempos atrás era, para mim, impossível conceber que alguma criatura que habitasse a face da Terra pudesse não gostar desta música. Imbecis! Loucos! Degenerados!


Estes eram os adjetivos mais agradáveis que poderiam ser aplicados a estes seres estapafúrdios que não compreendiam a soberba de uma das maiores obras da história da humanidade.


A conclusão era óbvia: gosto é que nem braço, tem gente que não tem.


Não penso mais assim, só de vez em quando.


Existe um exemplo melhor. É como encontrar alguém que não ache Ana Paulo Arósio estupidamente linda. É, pois é. Existe.


Ainda não encontrei ninguém que, ao mesmo tempo, não gostasse da sonata ao luar E não achasse Ana Paula Arósio estupidamente linda, mas deve existir. Solto por aí.


Por mais que pareça insano, por mais que nos dê vontade de cometer autofagia, a realidade é dura. A beleza não existe.


Tudo bem, era fácil pra Platão. O arquétipo da beleza passava seus dias caminhando no arquétipo do parque a colher o arquétipo da flor e a brincar com o arquétipo da borboleta, láaaaa no mundo das idéias. As coisas aqui no nosso mundo se aproximavam mais ou menos da Sra. Beleza de lá e pronto, eram mais ou menos belas.


Então, chegou o apocalipse no mundo das idéias e ninguém mais levou essa idéia de mundo das idéias a sério.


A beleza é relativa. Portanto aproveite, diga que você acha que sua peguete revendedora da Avon é mais linda que Ana Paulo Arósio e todo mundo vai ter que acreditar.


A tal da relatividade da beleza não é uma idéia fácil de conceber. Imagine que não há nada no planeta que garanta que o teto da Capela Sistina seja uma obra de arte maior do que aquela pegada com tinta verde que você fez na segunda série.


A única coisa que faz da Capela Sistina ser hoje mais apreciada do que sua pegada verde é a soma dos gostos de vários metidos a bestas que hoje já estão mortos. É só a isso que se resume uma estética.




Toc, toc. Com licença, você tem a Mona Lisa aí do seu lado? É que o papel aqui acabou.



Tudo bem, já me aventurei a dizer que aquele arrocha que toca domingo de tarde na madeireira brotas não é pior que Beethoven. Se você ainda não muxoxou, desligou o computador e foi ler Tio Patinhas depois dessa, parabéns, nós agora vamos pensar pelo outro lado da coisa.


Eu detesto a Mona Lisa. Detesto tanto que ao pensar nela para fazer este artigo tive que imediatamente baixar sua figura e desenhar-lhe um formoso bigode vermelho.


Já posso até ouvir as pragas rogadas contra mim. Herege no mínimo.


Eu até gosto de Leonardo, se alguém tem que levar a alcunha de gênio, este alguém deveria ser ele. Mas a Mona Lisa me transtorna.


Toda vez que ouço todos os mistérios, segredos, sortilégios, histórias e curiosidades sobre este famoso quadro, detesto ainda mais aquela velha senhora.


É como se alguém me mostrasse a sua pegada verde da segunda série e dissesse:


“Espetacular, olhe que espetacular. Este tom de verde até hoje não se sabe como foi atingido, ao que tudo indica foi tirado de uma planta já extinta que só nascia nos Alpes Suíços. E este ângulo, meu deus! Já tentou botar seu pé aqui? Ele não se encaixa! Na verdade a obra não encaixa em nenhum pé humano, simplesmente tem uma forma impossível de ser encaixada por pés humanos!”.




Mmmmmm...




Tudo bem, arte contextualizada é uma coisa, mas arte explicada é um saco. Se você tem que ler um tratado sobre algum quadro pra ter que achar ele bonito, é porque ele é feio mesmo. O que era bonito era o tratado.


Pois bem, a Mona Lisa tem um valor inestimável. Milhões de pessoas vão ao Louvre só para vê-la, ou melhor, pra dizerem que a viu. Eu não dou um Big-Big por ela.


Eu deveria então estar inscrito dentro das seguintes categorias: idiota, insensível, inepto, insensato, ignorante, incapaz, indolente, inemotivo, inescrupuloso, louco.


Ora... se eu não tinha compreendido a obra, nem tido a sensibilidade necessária para apreciá-la em todos os seus aspectos, isso era porque tal capacidade seria reservada para poucas almas, dotadas de maior sabedoria...




Saco.




Eu simplesmente a acho horrível, não criei nenhum laço de identificação ou admiração com ela. Não sinto qualquer emoção quando vejo sua figura (nunca a vi pessoalmente é verdade, mas duvido muito que vá ajudar em alguma coisa).


Talvez vocês já tenham previstos onde eu queira chegar, talvez seja mais fácil adivinhar para quem, como eu, acha que La Gioconda não passa dum retrato de uma gordinha sentindo cócegas.


Ora, por que diabos eu posso simplesmente detestar aquela que é considerada uma das maiores obras da humanidade e meu vizinho do lado não pode detestar a “sonata ao luar” e adorar “bota a cabra pra berrar” do famigerado Babau do pandeiro ?


Aaaa Tiago... mas você é um menino inteligente, culto (???!!!), intelectual... suas análises são tomadas de forma pensada, refletida... qualquer um tem o direito de, desta forma organizada, chegar à conclusão de que não gosta de alguma coisa. Já seu vizinho é somente um pobre infeliz ignorante, idiotizado e controlado pela indústria cultural... é somente por isso que ele consome esta música de péssima qualidade”.


Como é que é?


Tiraram do meu vizinho a capacidade nata do ser humano de pensar e refletir? Aliás, é possível não pensar e não refletir? Meu vizinho tá vivo?


Tudo bem, existe uma indústria cultural. Tudo bem, existe burrice, que, aliás, é o assunto de outro texto, mas achar que alguém é burro porquê não gosta de Chico Buarque mas gosta de Calypso é muita burrice. O que, aliás, só comprova minha tese.


Nenhum ser na história da humanidade gosta ou gostou de todas as obras ditas genias das variadas artes criadas pelo seres humanos. Acreditem em mim.


Pensem um pouco, com certeza você deve detestar um bom número de coisas que os bam-bam-bans achem magnífico. E por outro lado, deve gostar de uma porrada de coisas que um monte de gente diz que é horrível. (Aquele CD da Shakira não é meu, foi minha prima pequena que deixou aqui).




Mmmm que gata, ai eu no meio desses 85 quilinhos de formosura...




Nem o senso comum de beleza concorda consigo mesmo. Nem espacialmente nem temporalmente. Já tentei ouvir rock holandês. Só tentei uma vez.


Ana Paula Arósio não levantaria da cadeira pra dançar uma valsinha sequer em 1500 e pouco. Seria esnobada e provavelmente acabaria num convento onde treparia cheia de culpa com outras freiras. (Mmmm...)


Em compensação, Cláudia Gimenez posaria para os mais famosos retratistas da época, seria disputada pelos mais nobres fidalgos e povoaria os sonhos molhados dos pré-adolescentes.


A noção de beleza mudou e felizmente, não vemos hoje Cláudia Gimenez em comerciais de cerveja. Comerciais de cerveja nem deveriam existir, mas isso é assunto pra outro texto.


Para não ficar tão longe na história lembremos de como o blues, o rock, o forró e a arte moderna eram considerados pura zuada e garranchos, e de como ganharam o respeito e gosto dos sabichões de gosto refinado. (Eu acho 90% dos trabalhos de artes plásticas “modernas” uma merda, mas isso não vem ao caso).




Ainda somos os mesmos e vivemos...




Aquelas crianças alucinadas e adolescentes sebosos de ontem cresceram, cortaram os cabelos, continuam ouvindo rock. Agora ouvem um pouco mais de MPB, pois “se sofisticaram” e metem o pau em tudo que não gostam de ouvir como se fosse uma “arte menor”. Eles aprenderam direitinho a lição, não?




Desliga isso menino, isso não é música, é barulho!”




Definitivamente não há nada demais em achar uma música barulho, nem um quadro uma merda. Eu mesmo já disse que acho Mona Lisa uma merda, e a música do meu vizinho também.


Acontece que EU acho uma merda, é uma merda pra MIM (que no final é quem verdadeiramente importa), não é que estas coisas estejam mais distantes do estereótipo da beleza, lá no mundo das idéias. Não existe nada que paire sobre a humanidade e sustente uma “verdadeira” beleza ou uma “verdadeira” merda.


A beleza continua e continuará sendo tão somente a soma, disputa e diálogo dos gostos de homens, que um dia, enfim, também morrerão.


Ou seja, mude de estação, mas não precisa internar seu vizinho, ele está bem.


A sim, minha conclusão mudou: não é questão de braço, é questão de cu mesmo.

Curupira Urbano

Primeira Postagem.

Pois Bem. Esta é uma postagem teste, quero ver como me saio atuando neste campo blogueiro ainda inexplorado por mim.
Se por acaso eu me apaixonar pela coisa, seguirei, senão simplesmente deixarei pra lá e voltarei a postar quando me der na telha.
O Blog foi construído pra ser multi-temático. Pretendo falar desde minhas mais novas inquietações intelectuais até a mais velha besteira internética. Quem sabe com o tempo ele não acabe tomando outros rumos. Veremos.

"Mas por quê Curupira Urbano ????"

Desde pequeno eu sempre fui fascinado pela história do curupira. Aquele lance de defender as matas dos caçadores malvados realmente cola quando você tem 6 anos. Aí eu cresci. E fui gostando mais ainda do Curupira.

Caralho, ele era nosso Robin Hood! Ele até seguia sua própria moral! Nas versões mais leves assustava os caçadores para que eles fugissem e saíssem das matas, nas mais pesadas faziam-nos se perderem e vagarem pela floresta até a morte.
Creio ter sido a primeira vez que meu pequeno cérebrozinho infantil questionou a dualidade maniqueísta do Bem X Mal.

-Ô meu paaaaaaai... o curupira é bom ou mal???
-Err... tome aqui 100 cruzados e vá comprar uma bala.

Aproveitei bem a bala, mas não esqueci o diabo do curupira. Talvez, quem sabe, não tenha sido devido a ele que acabei entrando pro curso de Ciências Sociais...

Várias outras questões surgiram mas, pra mim, esta continua sendo muito interessante. Robin Hood estava certo? O Curupira estava certo? Por quê?
E hoje, o que significaria ser um Curupira?